13 junho 2006

"A Minha História" - III



5 de Janeiro de 1967. Após 8 dias de viagem a bordo do Vera Cruz, cheguei finalmente a Angola.

Foi uma viagem maravilhosa, que eu já mais esquecerei, apesar de ter deixado para trás todos os meus amigos, a terra que me viu nascer, e o mais importante, a minha mãe e irmã. O que estava para vir, isso seria uma incógnita.

Na bagagem, para além dos poucos haveres, levava sobretudo uma grande força de vontade para vencer, e a esperança da vida em Angola ser bem melhor do que aquela que na altura se vivia aqui na "Metrópole".

Junto à bagagem como atrás disse, levava também um velho Gira-Discos, a pedido de uma colega de trabalho, para ser entregue a uma amiga dela, e que estaria no Porto de Luanda à minha espera. E assim foi, quando o barco atracou, lá estava a Alda à minha espera. Levou-nos para casa dos pais, que ficava no Bairro da Boa Vista, junto a uma cerâmica, onde almoçámos.

Depois do almoço, eu e o meu pai resolvemos ir então até à baixa, a pé, não só para pouparmos uns trocos, mas também para melhor conhecermos e ter os primeiros contactos com a cidade de Luanda.

Entretanto, e aquando da minha despedida de Sociedade Industrial Farmacêutica, na Sede em Lisboa, o seu Administrador, Sr.José Miranda, foi-me dado 3 nomes de Firmas existentes em Luanda, apenas os nomes, sem as respetivas moradas, o que iria dificultar mais as coisas. Uma era a Proquímica, a outra a J.Marques e a terceira a Dantas Valadas.

Mas, assim que chegámos à baixa, qual o meu espanto quando mesmo à minha frente deparei com a Proquímica. Dirigi-me então lá, para saber se necessitavam de um funcionário para a farmácia. Mas tive azar, pois na véspera tinham dado emprego a um outro colega. Mas logo me indicaram uma outra que ficava ali bem perto, ou seja a Dantas Valadas.


Nem queria acreditar no que estava a acontecer, tudo parecia um sonho, dado que estava tudo a acontecer muito rapidamente. Claro está, que prontamente me dirigi à dita Farmácia, onde felizmente arranjei logo trabalho e até poderia começar a trabalhar no dia seguinte.

Foi aqui, na Dantas Valadas onde conheci o significado da palavra "solidariedade". Pois futuros colegas prontamente se prestaram a darem-nos uma ajuda, dando-nos algumas dicas de Pensões onde ficar.

Foi na Vila Alice, na Praceta do Bocage numa Pensão familiar, onde eu e o meu pai ficámos cerca de dois meses. Aqui, nesta pensão voltei a sentir de novo a "solidariedade". Depois de saberem a profissão do meu pai, logo trataram de lhe arranjar emprego numa oficina de Marcenaria que existia ali perto. Moral da história. No dia do desembarque, tinha pensão e trabalho para os dois.

Durante esses dois meses, o único pensamento que existia em nós, era pouparmos ao máximo, chegando a ir e vir a pé de e para a baixa, para podermos alugar casa, com a mobília indispensável para a minha mãe e irmã se poderem juntar a nós, o que veio a acontecer no mês de Março. Foi então para a Rua do Lobito, no Bairro de S.Paulo, para onde a família já completa, foi morar.

Pouco tempo lá estivemos a viver. A casa era um pouco pequena, tinha sido só mesmo para remediar. Mudámos então para uma outra, esta um pouco maior, e que ficava na Rua Fernão Lopes. Foi nesta rua e numa casa perto da minha, que conheci a família Carvalhinho, família que mais tarde iria ter bastante influência na minha vida.

A nossa vida, felizmente estava a melhorar a pouco e pouco. Foi então que o meu pai resolveu montar um Salão de Cabeleireira, para a minha irmã poder trabalhar para a casa, sem dela sair. Mas para isso, a casa tornava-se de novo pequena e a mudança para outra maior, foi inevitável.

Desta feita para a Rua Garcia Orta, não muito distante desta última.

Ali, a vida começou então a decorrer de uma maneira normal, até chegar o dia 9 de Janeiro de 1969, dia em que fui para Nova Lisboa (Huambo), para a vida Militar.

Mais uma etapa da minha vida se tinha fechado, uma outra iria começar.

Será o que irei contar mais à frente

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